Categoria Tragédia  Noticia Atualizada em 14-11-2007

Assassinato choca paraíso dos estudantes na Itália
Inglesa de 21 anos foi encontrada morta em sua cama com a garganta cortada.
Assassinato choca paraíso dos estudantes na Itália
Foto: AP

Há duas semanas, ninguém em Perugia, Itália, além dos amigos de Amanda Knox sabia quem ela era. Agora na cadeia, ela se tornou a personagem central de um assassinato que trouxe indignação e perplexidade a esta charmosa cidade universitária, que todos os anos atrai milhares de estudantes estrangeiros, sobretudo dos Estados Unidos e de outros países da Europa.

No dia 2 de outubro, uma das três colegas de quarto de Knox, Meredith Kercher, 21, de Londres, foi encontrada embaixo de uma coberta encharcada de sangue em sua cama com a garganta cortada. A polícia reportou agressão sexual, possivelmente estupro, e prendeu Knox e outros dois suspeitos.

Os homicídios não são freqüentes em Perugia, muito menos como esse, e daí o mistério.

Em primeira análise, os três suspeitos não possuem características de assassinos. Primeiro Knox, que não se enquadra em nenhum perfil padrão de assassina: 20 anos, rica e bonita, formada em lingüística em Seattle e quem, a julgar pelas imagens que ela mesma publicou na internet e das quais provavelmente se arrepende, poderia ser acusada no máximo de eventual agressividade.

No entanto, a polícia acha que ela não agiu sozinha.

O terceiro e fatal ferimento à garganta de Kercher, de acordo com os boletins da polícia, foi feito por um homem. Os outros detidos foram o namorado italiano de Knox, Raffaele Sollecito, 24, loiro e com aparência frágil por traz dos óculos e Diya Lumumba, 44, do Congo, proprietário de um bar chamado Le Chic, onde Knox trabalhava como garçonete. Ele é conhecido em Perugia como Patrick, é pai de uma criança e músico que no ano passado lançou um disco de reggae.

As outras duas colegas de quarto de Knox e Kercher, advogadas italianas que estavam viajando quando aconteceu o assassinato, não são suspeitas.

Sem motivo
Há ainda a ausência de uma motivação para cometer o crime. Ninguém parecia ter problemas de dinheiro. Knox e Sollecito conheceram-se em um concerto de música clássica havia apenas duas semanas e nenhum dos outros principais suspeitos pareciam se conhecer há muito tempo. Segundo relatório do juiz, a polícia trabalha com a hipótese de ter havido alguma combinação de drogas e sexo e que um ou mais dos suspeitos detidos exigiu sexo de Kercher e acabou matando-a, talvez até sem intenção.

Todos os acusados declaram-se inocentes. Embora a versão de Knox tenha mudado diversas vezes, todos dizem que nem sequer estavam na casa na noite do crime.

"É muito complicado", declarou Marco Brusco, um dos advogados de Sollecito. "E não há certeza sobre quem é culpado."

Mistura étnica
A prisão de Lumumba sintetiza a complexa relação da Itália com o influxo de pessoas de diferentes etnias que se instalaram no país nos últimos anos. Parece ter havido um movimento popular precipitado de suspeita dele por ser imigrante, e também de defesa dele por ser imigrante. Um cartaz exposto em seu bar, agora fechado, dizia: "Liberte Lumumba. Prisão para Sollecito".

"Ele sempre foi educado e tratava a todos com respeito", declarou Ivo Pioppi, gerente de uma loja de discos que conhecia Lumumba como cliente. "Você nunca sabe como as pessoas são na vida particular, mas com base no modo como ele agia em público, isso tudo me parece estranho."

Internet
A internet publicou materiais comprometedores. Sollecito afirmou em um site de relacionamento social que é "honesto, pacífico, meigo, mas às vezes totalmente maluco" e posou para uma foto segurando o que parece ser um cutelo. No Facebook e no Myspace, Knox refere-se a si mesma como Foxyknoxy e aparece atrás de uma metralhadora Gatling e em um vídeo de 30 segundos com amigos no qual ela parece embriagada.

Com poucos esclarecimentos no caso, a atenção foi concentrada em Knox. Reportagens da imprensa italiana descrevem com freqüência os olhos azuis "indiferentes" da suspeita e seu foco nos homens e a sua atitude nada amigável em relação às mulheres. Os jornais da Itália e da Inglaterra especulam que os ferimentos leves encontrados no corpo de Kercher poderiam ter sido causados pelos dedos de uma mulher que tentava conter a vítima.

A mãe da acusada, que viajou até Perugia, foi enfática na defesa de Knox.

"Amanda é inocente e está arrasada com a morte da amiga", teria dito a mãe, a professora Edda Mellas, segundo os jornais britânicos. "Ela está totalmente perturbada."

Contradições
Segundo o relatório do juiz, o fato de Knox mudar a versão da história diversas vezes não a ajudou em nada. Primeiro ela disse à polícia que na noite em que Kercher morreu, 1 de novembro, ela estava com Sollecito na casa dele.

Mas durante interrogatório, afirmou que estava na cozinha de sua própria casa, de onde ela alega ter escutado gritos de Kercher. Ela contou que estava sozinha lá com Lumumba, quem, segundo ela, estava apaixonado por Kercher. Ela disse que tampou os ouvidos, saiu da casa e que não se lembrava de quase nada depois disso. No último final de semana, ela voltou a afirmar que não estava na casa naquela noite.

Imagens de câmeras de segurança exibem uma pessoa parecida com Knox entrando no apartamento por volta do horário em que Kercher foi assassinada. Quanto a Sollecito, a polícia relatou que encontrou pegadas de um tênis Nike que correspondem ao dele, e que um canivete que ele carregava pode ter sido a arma do crime. O advogado dele, Brusco, diz que aguarda os laudos do laboratório.

"Se não houver sangue no tênis e nem no canivete, não há provas", disse ele.

De acordo com a legislação italiana, os suspeitos podem ser mantidos na cadeia durante um ano enquanto as investigações estiverem em andamento. Mas o caso parece não se esclarecer. Pelos vestígios encontrados no apartamento, a polícia não descartou a hipótese de ter havido um quarto agressor que permanece desconhecido.

Tradução: Claudia Freire

Assassinato choca paraíso dos estudantes na Itália. Inglesa de 21 anos foi encontrada morta em sua cama com a garganta cortada.Polícia prendeu uma colega de quarto da vítima e outros três suspeitos.

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir