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Uso de metanfetaminas cresce na Europa Central

Laborat�rios caseiros da droga est�o se espalhando pela regi�o. Entorpecente � fabricado a partir de rem�dio para resfriado.
Uso de metanfetaminas cresce na Europa Central

Foto: NYT

A epidemia de metanfetaminas n�o � apenas foco do que ocorre nos EUA. Ela tamb�m tem uma base poderosa no cora��o da Europa Central. Laborat�rios caseiros da droga est�o surgindo por todo o pa�s para produzir esse entorpecente barato e potente usando pseudoefedrina, subst�ncia encontrada em rem�dio para resfriado comum.

No ano 2000, a pol�cia invadiu 19 locais de produ��o de metanfetamina. No ano passado o n�mero havia crescido para 416"- isso num pa�s com 10,2 milh�es de habitantes. O apetite por metanfetaminas na cena das drogas tchecas cresceu devido � estranha engenhosidade incentivada entre usu�rios uma vez que foram separados de t�xicos importados pela cortina de ferro. Agora, o consumo da droga altamente viciante e freq�entemente injet�vel parece estar se espalhando a partir da Rep�blica Tcheca em dire��o ao restante da Europa.

Se levada pelo fluxo de trabalhadores tchecos imigrando dentro da Uni�o Europ�ia ou simplesmente ganhando maior apelo por ser uma alternativa � coca�na pela metade do pre�o ainda � algo incerto. Mas o n�mero de pa�ses na Europa informando que realizou apreens�es da droga mais do dobrou entre 2000 e 2005, de 11 para 25, segundo o Gabinete de Drogas e Crime das Na��es Unidas. O uso de metanfetamina permanece de longe inferior ao da hero�na e do crescente h�bito de coca�na do continente.

Apesar da quantidade apreendida ter quadruplicado no mesmo per�odo para mais de 150 kg, a quantidade � pequena quando comparada �s mais de cinco mil quilos apreendidos nos EUA. Mas a preocupa��o � que a dissemina��o da droga na Europa represente a funda��o -�" em demanda, produ��o e distribui��o"- de algo que poderia levar a uma explos�o do uso da metanfetamina. O s�bito crescimento da drogas nos EUA e sua expans�o, passando de um problema regional para uma quest�o nacional � um aviso, segundo especialistas do gabinete anti-drogas das Na��es Unidas. "Devemos temer que algo similar ocorra na Europa", disse um especialista, Thomas Pietschmann, autor do Relat�rio Anual Mundial sobre Drogas das Na��es Unidas.

Os legisladores tchecos e autoridades policiais est�o tentando derrubar os pequenos produtores locais que, de acordo com oficias da pol�cia, est�o preparando metanfetamina suficiente para todo o mercado da Rep�blica Tcheca. Mas a experi�ncia nos Estados Unidos mostrou que uma vez que a demanda estiver clara, poder� ser suprida pelo enorme fluxo do mercado de drogas global. Apesar de os EUA terem feitos avan�os significativos na luta contra os pequenos produtores de metanfetamina com restri��es mais severas �s vendas de medicamentos usados em sua produ��o, enormes laborat�rios no M�xico e na �sia continuam a suprir os usu�rios americanos. O desafio � "deter o mercado de metanfetamina enquanto ainda est� nos seus prim�rdios", disse Pietschmann. "Depois que ele j� estiver estabelecido, ser� muito mais dif�cil.

"Pietschmann disse que al�m do pa�s exportar a droga para na��es vizinhas, os estados b�lticos tamb�m a produzem para pa�ses do norte, incluindo Su�cia e Finl�ndia; ele ouviu falar at� de dois laborat�rios descobertos em Viena, odne fica seu escrit�rio. "A droga perigosa porque � f�cil de produzir".

Um "cozinheiro" (fabricante da droga) da pequena cidade de Jesenik, n�o muito longe da fronteira com a Pol�nia, disse que enviou diversos lotes de metanfetamina -�" conhecida localmente pro seu antigo nome, Pervitin -�" para amigos na Inglaterra que foram para l� pra trabalhar. "Eles queria escapar de Jesenik, escapar do Pervitin, mas acabaram chegando l� e me pedindo para enviar a droga para eles", disse o homem, que cobriu o rosto e se recusou a dar seu nome com medo de ser processado. Em seu rudimentar laborat�rio, o mundo exterior parece estar isolado pelas pesadas cortinas isolantes improvisadas, tapetes velhos e cobertores pregados sobre as janelas.

O "cozinheiro" cuidou com extrema aten��o de sua borbulhante mistura vermelha e disse que aquilo renderia mais de meio quilo de metanfetaminas caseiras. Apesar daquele lote de droga sozinho"- que poderia produzir centenas de doses -�" valer, com base na m�dia dos pre�os das ruas, cerca de US$ 1800, ele tinha t�o pouco dinheiro que n�o podia nem fazer chamadas telef�nicas com seu celular pr�-pago porque n�o tinha cr�dito. Ele disse que n�o vendeu sua produ��o, mas a usou com amigos. A pol�cia do pa�s diz que c�rculos t�o unidos de usu�rios s�o comuns por aqui e a descentraliza��o � parte da dificuldade em fechar as opera��es. "Se um deles � desbaratado, tr�s outros brotam em outro lugar", disse Bretislav Brejcha, chefe do grupo de preven��o e metodologia do quartel general da pol�cia.

No tempo em que a ent�o Tchecoslov�quia estava sob o jugo do comunismo, viciados tinham que reproduzir sua pr�pria droga concentrando medicamentos. Essas drogas eram fabricadas por grupos pequenos e unidos de usu�rios, conhecidos como "esquadr�es" e eram usadas para consumo do pr�prio grupo e n�o para distribui��o e venda. A metanfetamina surgiu na cena local nos in�cio da d�cada de 70 e tanto ela quanto outras drogas explodiram com o fim do comunismo e abertura do pa�s em 1989.

Dos cerca de 30 mil "usu�rios de drogas problem�ticos" identificados pelo governo tcheco, 20 mil usam Pervitin -�" nome utilizado para o com�rcio da droga quando os militares nazistas a ministravam aos solados e pilotos como ant�doto contra fadiga. Entre os usu�rios problem�ticos, 90% injetam a droga com agulhas -�" pr�tica conhecida nos EUA como "slamming" -�" em vez de cheir�-la ou fum�-la. Mais de um ter�o dos usu�rios de drogas intravenosas da Rep�blica Tcheca tem hepatite C, apesar de a taxa de cont�gio pelo v�rus HIV permanecer baixa, inferior a 1%.

De acordo com o departamento de narc�ticos dos EUA, a Rep�blica Tcheca tem alto �ndice de uso de cannabis, o maior de todo para ecstasy e "de longe" o piro caso de abuso de metanfetaminas de toda a Europa. Eles talvez tenham sido encorajados a isso pela acessibilidade do ingrediente principal. A cidade de Roztoky, nas imedia��es de Praga, teve um das maiores f�bricas de efedrina do mundo at� 2002. De acordo com a pol�cia tcheca, esse foi o ano em que a f�brica come�ou a fechar sua produ��o da subst�ncia qu�mica. N�o por coincid�ncia, dizem eles, foi o ano em que o n�mero de laborat�rios que sofreram batida policial quase quadruplicou, passando de 28 no ano anterior para 104. A pol�cia disse que at� aquele momento, grupos maiores e mais organizados estavam obtendo a efedrina da f�brica e produzindo a droga em quantidade para vender nas ruas. Agora, o sistema de produ��o voltou para as m�os de pequenos grupos como no tempo do comunismo est� chegando a lugares pequenos e distantes. O parlamento est� trabalhando numa lei para dar aos farmac�uticos controle sobre a quantidade de rem�dio para resfriado contendo pseudoefedrina que acham adequada para vender a um s� consumidor. A pseudoefedrina � utilizada para produzir a droga quando a efedrina pura n�o est� dispon�vel. Outros afirmam que um registro nacional listando todas as vendas de subst�ncias usadas como mat�ria-prima na fabrica��o de drogas deveria ser obrigat�rio.

"Uma solu��o em que a farm�cia ir� decidir sem um registro nacional n�o vai resolver o problema", disse Brejcha. A pessoa que "cozinha" a droga em Jesenik concordou com isso. "Alguns farmac�uticos consideram 100 caixas uma quantidade adequada", disse o homem, que admitiu ter usado a droga por mais de uma d�cada, mas disse que a fabricou apenas durante dois anos e meio. A uma curta dist�ncia da fronteira com a Pol�nia, Jesenik est� entre os locais mais isolados de toda a Rep�blica Tcheca. N�o existem rodovias e at� uma leve neve de novembro nas montanhas faz com que percorrer as estradas sinuosas se torne algo perigoso. Ao contr�rio de outras comunidades rurais, os habitantes n�o t�m ra�zes profundas aqui. Pessoas de etnia alem�, que costumavam ser a popula��o principal, foram expulsos depois da Segunda Guerra Mundial.

A maior parte das Ind�strias da �poca do comunismo desapareceu depois que a Revolu��o de Veludo derrubou aquele governo. "Pessoas jovens e instru�das est�o � toa", disse Jiri Stana, o vice-prefeito. "N�o h� emprego para elas. Quem � inteligente o bastante est� em Praga". O governo local det�m as estat�sticas sobre o n�mero de usu�rios da metanfetamina, mas o chefe de uma pequena cl�nica para viciados perto da esta��o de �nibus desta cidade de 12500 habitantes afirmou que os funcion�rios j� doaram mais de 17 mil agulhas limpas em apenas dez meses. Em cidades maiores, a situa��o � realmente an�nima", declarou o diretor da cl�nica, Josef Vondrka, 31 anos, ele pr�prio um ex-usu�rio. "Aqui � mais pessoal. Ir a uma farm�cia e pedir seringas acaba com o anonimato imediatamente".

Vestindo capuz preto e grandes botas negras, ele n�o pareceria deslocado num show de punk hardcore. Mas as botas, disse ele, eram prote��o caso pisasse em agulhas usadas. No centro, os clientes podem tomar banho, lavar suas roupas, tomar um caf� e receber aconselhamento. O centro tamb�m faz testes de HIV. Lenka, uma usu�ria de 23 anos que se recusou a dar seu sobrenome, disse que em manh�s recentes bateu na porta de cinco vizinhos"- todos usu�rios da droga"- e n�o conseguiu encontrar ningu�m que lhe conseguisse uma agulha limpa. "Muita gente n�o come�a a usar cheirando, como era antigamente", declarou ela. Apesar de ser usu�ria h� seis anos, Lenka afirma que se recusou a fabricar a droga por conta pr�pria. "Se voc� come�ar a fazer isso, a coisa pode ficar muito perigosa", declarou a jovem, "porque n�o d� mais pra parar". O "cozinheiro" local da droga concorda. "Quando me perguntam como fazer metanfetamina, eu sempre digo ´N�o vou te ensinar a fazer isso", disse o homem enquanto acrescentava iodo � sua mistura. "N�o fa�a isso. Quando voc� aprende a fabricar a droga, voc� morre". "Acho que vou morrer por causa disso", disse ele enquanto ficava atento ao term�metro enterrado na grossa mistura vermelha.

Uso de metanfetaminas cresce na Europa Central. Laborat�rios caseiros da droga est�o se espalhando pela regi�o. Entorpecente � fabricado a partir de rem�dio para resfriado.

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Por: Adriano Costa Pereira | Imprimir