Influ�ncias externas determinaram que os esquerdistas adotassem o vermelho como s�mbolo das suas lutas
Bonezinho Vermelho ganhou este apelido por causa da sua predile��o pela cor
vermelha e pela verdadeira adora��o que sempre teve por bon�s. O gosto pela cor
vermelha n�o surgiu na inf�ncia tampouco se manifestou na adolesc�ncia, foi
adquirido um bom tempo depois que ele chegou naquela parte da grande floresta.
Nunca foi de levar doces para a vovozinha, ali�s, pouco se sabe a respeito dessa
senhora. Logo que chegou na floresta, Bonezinho Vermelho tratou de arrumar um
emprego, qualquer que fosse, pois estudara pouco e n�o tinha qualifica��o
suficiente para escolher trabalho. Fez de tudo at� encontrar um emprego
promissor numa grande empresa localizada numa regi�o famosa por concentrar quase
que todas as montadoras de carro�as da grande floresta. Naquela �poca ningu�m
ainda o conhecia como Bonezinho Vermelho, o que s� veio a acontecer alguns anos
mais tarde quando ele, para a sua pr�pria surpresa, chegou � presid�ncia do
maior sindicato daquela regi�o, justamente quando come�aram a estourar v�rias
greves de trabalhadores. O sistema de governo da grande floresta era controlado
pela Pol�cia Florestal que havia assumido o controle gra�as a uma revolu��o
acontecida h� 15 anos, exatamente no dia 1�. de abril, mas que foi alterado para
31 de mar�o para n�o cair no dia da mentira.
Rapidamente Bonezinho Vermelho foi al�ado � categoria de l�der da massa
trabalhadora daquela grande floresta. Ocorre que a Pol�cia Florestal, com toda a
sutileza caracter�stica desse per�odo, mandou baixar o cacete nos trabalhadores
enquanto mantinha os olhos bem abertos para os l�deres do movimento. O governo
policial dividia a sociedade florestal em dois grupos: os que eram a favor do
governo e os que eram contra. Naquele tempo costumava-se chamar de direita os
que eram partid�rios do governo e de esquerda os que lhe eram contr�rios.
Influ�ncias externas determinaram que os esquerdistas adotassem o vermelho como
s�mbolo das suas lutas, os bon�s vieram logo em seguida. Para mostrar que n�o
estava de brincadeira, a Pol�cia Florestal prendeu Bonezinho Vermelho e acabou
com aquele neg�cio de greve que j� estava virando moda.
A estr�ia movimentada na pol�tica florestal deu um novo �nimo na vida de
Bonezinho que, juntamente com outros companheiros, fundou um novo partido no ano
seguinte. Deu sorte, pois cinco anos mais tarde ca�a o regime policialesco
florestal e come�ava a fase de abertura pol�tica na grande floresta, com direito
at� a uma nova constitui��o e novos partidos pol�ticos que surgiram �s pencas.
Nenhum deles, entretanto, conseguiu segurar a ascens�o do partido dos bonezinhos
vermelhos que se auto-intitulavam os verdadeiros representantes da massa
trabalhadora e guardi�es da �tica e da moral. Durante um bom tempo aporrinharam
todos os partidos oficiais com a sua oposi��o � flor da pele. Bonezinho Vermelho
j� era conhecido e reconhecido nacionalmente como o maior representante do povo
oprimido da grande floresta, havia feito algumas incurs�es pela pol�tica, fora
dos sindicatos e, portanto, sentia-se preparado a al�ar v�os maiores.
Come�ou ent�o uma s�rie de tentativas para conquistar a presid�ncia da grande
floresta. E como tentou! Primeiro contra um mauricinho aloprado surgido do nada,
ca�ador de maraj�s e praticante de esportes radicais. Sua campanha foi bastante
agressiva, destacando-se sua voz rouca e irada, atirando farpas contra todas as
elites que esmagavam o povo com suas pol�ticas de arrochos salariais e de
combate ao drag�o inflacion�rio. Apesar de bem recebido pela popula��o mais
carente da grande floresta, o discurso de Bonezinho Vermelho aliado � sua imagem
agressiva n�o colou na classe m�dia e nas elites florestais que preferiram levar
seus votos para o engomadinho das gravatas famosas. Bonezinho voltou para a
oposi��o enquanto que o mauricinho aloprado logo no in�cio do governo confiscou
a poupan�a de milh�es de florestarianos na tentativa insana de domar o terr�vel
drag�o inflacion�rio. N�o chegou a terminar o mandato, envolto numa onda de
corrup��o, delatada pelo pr�prio irm�o ciumento. Assumiu seu vice, o sempre
indeciso topet�o mineiro, cuja medida mais ousada foi trazer um soci�logo para
ministro da fazenda, o mesmo que havia perdido uma elei��o por n�o confirmar que
acreditava em Deus. Antes � toa do que ateu, pensavam os florestarianos. E n�o �
que o soci�logo conseguiu cortar a cabe�a do drag�o inflacion�rio com um s�
golpe e acabar com esse flagelo que castigava a grande floresta h� v�rias
d�cadas? O feito foi t�o grande que ele se candidatou a presidente, para azar do
Bonezinho Vermelho que j� se preparava para nova tentativa de chegar ao poder. O
soci�logo, amparado pelo grande feito, precisou apenas do seu sorriso europeu
para derrotar o pobre Bonezinho Vermelho que ainda insistia em se agarrar � suas
origens esquerdistas, bradando contra tudo e contra todos que n�o cheirassem a
povo. Voltou novamente para a oposi��o e junto com seu partido tentou fazer de
tudo para negar o grande feito do soci�logo que, indiferente aos
nhen-nhen-nenhens oposicionistas, abriu a grande floresta para o mundo,
privatizou mastodontes que h� anos mamavam nas tetas governamentais, sempre com
seu sorriso neoliberal estampado no rosto em contraste com a cara enfezada de
Bonezinho Vermelho.
A saga do soci�logo durou quase uma d�cada j� que foi reeleito ao derrotar
novamente o justiceiro enfezado Bonezinho Vermelho que n�o conseguia transformar
em votos o carisma que mantinha sobre a massa florestariana. O soci�logo n�o
conseguiu manter o mesmo brilho em seu segundo governo, a �nica coisa que ainda
lhe dava sustenta��o era a fa�anha de ter derrotado o drag�o inflacion�rio e n�o
ter permitido que ele retornasse mais esfomeado do que nunca.
O longo per�odo de tentativas de Bonezinho Vermelho deu-lhe a experi�ncia
necess�ria para transformar-se em uma metamorfose ambulante, a ponto de esquecer
seu passado pol�tico e lan�ar-se como o Bonezinho Paz e Amor e assim,
finalmente, realizar o sonho da sua vida: ser o presidente da Grande Floresta.
Macaco velho, manteve a pol�tica econ�mica vitoriosa do soci�logo e criou uma
s�rie de programas tipo "dou o peixe, mas n�o ensino a pescar" para as classes
menos abastadas e politizadas da grande floresta. Entrou para a hist�ria. Apesar
do festival de esc�ndalos de corrup��o praticados por membros daquele seu
partido que levantava a bandeira da �tica, da moral e da justi�a, conseguiu n�o
s� manter-se no poder como tamb�m ser reeleito. A estrat�gia para sair imune do
lama�al era bem simples" n�o sei, n�o vi, n�o fiquei sabendo...
Quem olhar para ele hoje pouca lembran�a ter� de sua origem pol�tica e dos
v�rios anos em que encarnou o Bonezinho Vermelho, raivoso e rabugento. Da mesma
forma, quem olhar mais atentamente para seu partido depois de quase uma d�cada
no poder ter� apenas uma vaga lembran�a das bandeiras que eles levantavam. Hoje,
os bonezinhos vermelhos buscam se agarrar ao poder a todo custo, tentando
inclusive inventar um terceiro mandato para seu grande l�der que conseguiu
sobreviver independente deles com sua pol�tica inovadora da concilia��o e do
agrado pol�tico, pol�tica esta que transforma inimigos do passado em
companheiros do presente. Bonezinho Vermelho n�o quer mais saber de brigas e
desaven�as pol�ticas, isso � coisa do passado, o que conta hoje � a concilia��o
e, em nome dela, tudo � poss�vel, at� mesmo aceitar a contragosto a posse de
dois Lob�es Maus numa tacada s�, tudo em nome da concilia��o.
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Fonte: Reda��o Maratimba.com
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