Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 09-03-2009

SEJA ANÁTEMA
O arcebispo de Recife excomungou o médico e familiares que submeteram ao aborto a menina de 9 anos que...
SEJA ANÁTEMA

Juliano Ribeiro Almeida

Excomunhão significa literalmente "fora da comunhão". O arcebispo de Recife excomungou o médico e familiares que submeteram ao aborto a menina de 9 anos que, vítima de um abuso sexual, engravidou de gêmeos. Ele disse que o aborto é um crime ainda pior do que a pedofilia de que a menina foi vítima. Mas por que a Igreja Católica considera particularmente o aborto como pecado condenável com excomunhão? Por que não excomungar também o pedófilo que engravidou a enteada?

Para se compreender o que é a excomunhão, é preciso entender que alguém é excomungado não por ter pecado gravemente e sim por insistir conscientemente no pecado e defendê-lo como se fosse um bem. A excomunhão não é propriamente um castigo ao pecador, mas um atestado oficial de que a tal pessoa não está em comunhão com o que a Igreja crê e ensina, e que essa dissonância é em matéria gravíssima. Os próprios responsáveis pelo aborto é que se excomungaram a si mesmos, quer dizer, afirmaram, pela simples atitude tomada, que não estão definitivamente em comunhão com uma Igreja que defende a vida a todo custo, mesmo que sendo fruto de uma das piores atrocidades de que um ser humano é capaz. O bispo apenas deixou claro isso.

Jesus alertou os seus discípulos: "não julgueis e não sereis julgados" (Lc 6,37), mas disse também: "Quem não está comigo está contra mim" (Lc 11,23). Na Bíblia grega, o Pentateuco (5 primeiros livros) utiliza várias vezes a expressão "seja anátema", que significa "seja excomungado". No Israel antigo, quem tomava atitudes contrárias à fé da comunidade era declarado fora da comunhão religiosa e, por isso, era expulso do acampamento ou da cidade. Paulo também utiliza a expressão "seja excomungado" na Carta aos Gálatas (1,8). É também bastante comum nas comunidades evangélicas e pentecostais que alguém seja punido com o afastamento de suas atividades caso decida descumprir os ensinamentos da Igreja. A excomunhão não é invenção da Igreja Católica.

A Bíblia diz: "Todo aquele que caminha sem rumo e não permanece na doutrina de Cristo não tem Deus. Se alguém vier a vós sem trazer essa doutrina, não o recebais em vossa casa" (2Jo 9-10). A doutrina é clara; o quinto mandamento diz: "não matarás". Quem não permanece nessa doutrina já está fora da comunhão plena com Deus. Como o presidente Lula disse, o arcebispo de Recife foi mesmo conservador nesse caso, e conservador no sentido estrito e positivo da palavra: ele conservou a verdade, preservando-a intacta mesmo diante das agressões.

O árbitro "excomunga" o jogador quando ele insiste em transgredir as regras do futebol, e todo mundo acha isso normal e necessário, para colocar ordem no jogo. O juiz "excomunga" o criminoso e o coloca atrás das grades até que se remende do mal que praticou; e todos acham que a lei deveria ser até mais dura. A Igreja, da mesmíssima forma, tem que tomar uma atitude de correção quando um de seus filhos insiste em praticar o que vai terminantemente contra os ensinamentos da Sagrada Escritura.

Mas é bom que se lembre: a excomunhão é remédio (amargo, é verdade) para promover o arrependimento da pessoa que errou. Se o pecador se arrepender e confessar devidamente esse erro, prometendo não voltar a cometê-lo, ele volta à comunhão plena com a Igreja. Só depende do excomungado.

Juliano Ribeiro Almeida é padre católico e trabalha em Cachoeiro de Itapemirim.


    Fonte: O Autor
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir