Categoria Politica  Noticia Atualizada em 08-09-2010

Tancredo e a Redemocratização: tema cívico de Marataízes
Marataízes comemora a Independência com desfile cívico-temático cujo tema é: 25 anos da redemocratização do Brasil.
Tancredo e a Redemocratização: tema cívico de Marataízes
Foto: Lápide de Tancredo em São João Del Rei


Este ano o governo de Marataízes, através da Secretaria Municipal de Educação, festejou a Independência do Brasil com a realização de um desfile cívico-temático tendo como tema central os "25 anos da Redemocratização do Brasil".

A idéia, segundo a Secretária Calcinéia de Oliveira, foi aproveitar a tradicional solenidade cívica para fomentar a discussão a respeito dos princípios da democracia e da dignidade da pessoa humana, uma vez que muitos interpretam a história através de fatos isolados e estáticos, não sendo diferente em relação à Independência e o processo de democratização e redemocratização do Brasil.

Para boa parte da população, a história da Independência se fixa na imagem plástica fornecida pela arte do pintor Pedro Américo "Grito do Ipiranga", que descreve em tela à óleo a cena da Independência através da imagem de Dom Pedro montado em vistoso cavalo, empunhando sua esgrima, cercado pelos Dragões da Independência e bradando o famoso grito "Independência ou Morte", e é assim, de modo estático, que para muitos se fez e se encerrou o assunto.

Com o desfile desse ano, o governo de Marataízes procurou levar para a avenida um pouco do conceito e da história da redemocratização brasileira, com a finalidade de provocar o debate, sobretudo quanto ao chamado segundo ciclo de redemocratização, que falaremos mais adiante.

Nesse sentido, para chegarmos ao segundo ciclo de redemocratização, primeiro temos que nos reportar a Independência, ocorrida em 1822, fato que hoje é comemorado, na maior parte do país, em 7 de setembro.

As cenas para se chegar até este momento, contudo, não foram nada estáticas, tais como a reproduzida na famosa tela de Américo, ao contrário, pois para se chegar até aquele momento o que se viu e se passou em muitos dos Estados brasileiros, tal como nas Minas Gerais, foi parte do povo se rebelando contra o sistema de governo então em voga, através de inúmeros levantes, muitos deles inclusive armados e, em direção contrária, parte da população se rebelando contra a separação.

Temos assim, que parte do povo brasileiro, como os da Bahia, Piauí, Maranhão e Pará, não aceitavam, pelo menos inicialmente, a separação, de modo que atualmente, como marco histórico desse período, tem-se que em Salvador, por exemplo, a Independência é comemorada não em 7 de setembro, mas em 2 de julho, pois os soteropolitanos comemoram o dia em que as tropas brasileiras conseguiram conter os pró-lusitanos.

Nessa linha de raciocínio, historiadores se esforçam para destacar que a Independência não se deu em um dia – chegam, inclusive, a colocar em dúvida a existência do fato pintado por Américo -, para esses, a Independência teria ocorrido ao longo de todo o ano de 1822, sendo o marco inicial a recusa de Dom Pedro em retornar a Lisboa, em 9 de janeiro, data que ficou conhecida como o "dia do fico" e concluída com o coroamento em dezembro daquele ano.

Assim, para prosseguirmos nesta linha histórica, temos também que visitar Tiradentes, não a cidade, mas o alferes da Armada Real, Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes.

Joaquim José da Silva Xavier nasceu na fazenda Pombal, interior da então Vila de São José. Filho de Domingos da Silva Santos, vereador e influente político da região.

Com a morte do pai, mudou-se a convite de seu padrinho para a sede da Vila, onde aprendeu a função de tirar dentes e acredita-se tenha se alistado. Adulto e já com ideais de liberdade pulsando em seu corpo e já com o apelido de Tiradentes, se muda para Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto.

E foi nesta cidade, habitada por importantes barões do café que tinham por hábito mandar seus filhos estudar nos Estados Unidos, que aos poucos com o retorno desses à Vila Rica, puderam ver o quanto a independência do EUA da Inglaterra influenciou nos acontecimentos que estariam para ocorrer no Brasil.

Foi o retorno ao Brasil, desses jovens burgueses cheios de ideais libertários, que acabou por contribuir em muito para a deflagração de uma das maiores conspirações com o fim de libertar o Brasil do jugo português e assim proclamar a República.

A deflagração da Revolta ocorreria no dia em que o então governador de Minas Gerais, Visconde de Barbacena, anunciava uma nova derrama, nome que se dava à cobrança dos impostos.

Tiradentes, por sua vez, passou a fazer parte da história por ter sido o único revolucionário da armada real que teve mantida a pena de morte. Tiradentes foi enforcado a 21 de abril de 1792, no Largo da Lampadosa, Rio de Janeiro e para servir de exemplo, seu corpo foi esquartejado, sua cabeça erguida em um poste em Vila Rica e pedaços de seu corpo pendurado em várias estradas importantes.

Mas o "exemplo" não foi suficiente para interromper o processo, pelo contrário, tal fato serviu para difundir e acelerar ainda mais o curso dos acontecimentos.

Saltando no tempo, da independência para a redemocratização brasileira, temos que na história do Brasil podemos dizer que ocorreram, até o momento, dois processos distintos de redemocratização.

O primeiro, em 1945 com a deposição de Getúlio Vargas, fato que pôs fim a uma ditadura que perdurava desde o golpe de 1937.

A segunda e mais recente, pôs fim ao período ditatorial iniciado com o Golpe de 1964, tendo como marco a mobilização pelas "Diretas Já". Essa segunda fase é que é o tema central do desfile desse ano em Marataízes.

Em 1984, na Praça da Sé, centro de São Paulo, milhares de manifestantes se reuniram para gritar em uníssona "Diretas Já", momento que para muitos, é a marco inicial desse segundo momento de redemocratização.

No ano seguinte, em 15 de janeiro de 1985, o governador de Minas Gerais Tancredo Neves foi eleito Presidente da República, mas ainda não pelo voto direto, uma vez que teria sido eleito pelo voto indireto proferido pelo Colégio Eleitoral, mas uma escolha já bastante influenciada pelos novos ventos democráticos que se instalavam no país.

Sarney, vice à época, acabou por assumir a Presidência, uma vez que um dia antes da posse, marcada para 15 de março de 1985, Tancredo fora submetido a uma cirurgia de emergência, vindo a falecer na noite de 21 de abril, dia do aniversário de Brasília – outro marco da democracia-, situação que acabou por instaurar, um dos momentos mais emblemáticos da recente história brasileira.

Perceba que a estória de Tancredo e Tiradentes acabam por se assemelhar. Tancredo que exerceu, dentre outras importantes funções, o cargo de promotor de justiça, viveu parte de sua vida onde hoje está sepultado, em São joão Del Rei, no cemitério da Igreja de São Francisco.

Assim, é que no dia 15 de março daquele ano, pondo fim a um ciclo de 21 anos de ditadura militar no Brasil, assume Sarney, o vice de Tancredo.

Dessa forma, considerando que Sarney iniciou o novo ciclo democrático brasileiro, este ano estaríamos comemorando 25 anos do fim da ditadura militar brasileira.

Para outros, no entanto, o segundo ciclo de redemocratização brasileiro, só ocorre com a promulgação da Constituição Federal de 88, o que ocorreria em 5 de outubro de 1988.

Assim é que a Independência, Tiradentes, Tancredo e o segundo ciclo de Redemocratização são, portanto, alguns dos pontos a serem refletidos e discutidos e que foram levados a avenida durante a manifestação cívica de Marataízes.


    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Renato Alves    |      Imprimir