Categoria Esportes  Noticia Atualizada em 01-07-2013

Brasil, campeão da Copa das Confederações: Nas ruas e nos gramados o gigante acordou
A Copa das Confederações trouxe ao Brasil quatro equipes campeãs do mundo e entre elas a Espanha, a que vinha vencendo tudo o que disputava.
Brasil, campeão da Copa das Confederações: Nas ruas e nos gramados o gigante acordou
Foto: www.horizontems.com.br

Não pode ter sido coincidência o movimento de brasileiros clamando nas ruas por um país justo, por governantes honestos, por boa educação, por melhores condições de saúde, por transportes, por segurança, por paz, por alegria enfim acontecerem simultâneo com a volta do grande futebol brasileiro aos gramados do país e do mundo.

O Brasil foi crescendo jogo a jogo enquanto o movimento nas ruas ganhava contornos objetivos acordando a quem de direito e que tem a obrigação de ouvir sem demagogias o clamor da população.

Não poderia haver um melhor adversário para que a seleção brasileira completasse sua jornada vitoriosa nesta Copa que antecede ao mundial do que a Espanha, a seleção mais vitoriosa do mundo nestes últimos anos.

A seleção nacional brasileira vivia um momento inexplicável de queda em seu rendimento e a coincidência também aí funcionou de maneira forte e objetiva: no 30 de junho fez 11 anos que o Brasil ganhou seu quinto título mundial em 2002 no Japão.

Era o momento propício para o gigante despertar de sua letargia aparente e mostrar que está vivo e forte, e responder ao aceno da massa que o aplaudiu desde a estreia em Brasília e o seguiu por Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte até chegar à apoteose do Maracanã.

A equipe do Brasil simplesmente desmontou a forma espanhola de jogar, não permitiu em momento algum que os campeões do mundo se sentissem a vontade para praticar o seu futebol costumeiro e construiu uma vitória épica que deve ser caminho de redenção para quem andou de forma errática nestes últimos anos.

0s 3 a 0 categóricos diante de um adversário do nível da Espanha abrem o caminho para um trabalho sadio e confortável em direção à próxima Copa do Mundo.

Coroado de êxito o que fez a equipe de Luiz Felipe Scolari ultrapassou a mais otimista das expectativas e não é o momento sequer de se pensar que o Campeão desse torneio jamais ganhou o do ano seguinte.

É hora de comemorar essa conquista e estarmos cientes de que o caminho está aberto para o trabalho sério que pode significar um hexa no ano que vem.

Restrito ao cotejo o domínio brasileiro foi irrefragável em todos os sentidos e os 3 a 0 no marcador (Fred e Neymar no primeiro tempo e novamente Fred na etapa complementar) são o reflexo de uma vitória do tamanho do país continente.

Isto não significa que a Espanha tenha perdido a sua condição atual de melhor equipe do mundo e nem que o Brasil seja o favorito para o ano que vem, mas aponta um desenho claro que a rota da seleção brasileira foi finalmente encontrada.

Não tenho sequer condição de ficar apontando os melhores em campo já que, modo geral, a exibição brasileira foi portentosa em todos os aspectos e afogou toda a mágoa que o torcedor vinha sentindo com a ausência de conquistas de alto nível.

Em grande estilo e com fulgurante exibição como cantou o público presente ao Maracanã, o campeão voltou.

Que tenha sido para ficar.

UM HONROSO TERCEIRO LUGAR PARA A ITÁLIA

O domingo de decisões na Copa das Confederações começou bem mais cedo que Brasil e Espanha se digladiassem no Maracanã e num horário estapafúrdio.

Até agora não deu para compreender a razão de uma partida começar às 13 horas numa cidade tão quente como Salvador e correndo o risco de haver inclusive a cansativa prorrogação.

Não deu outra e Uruguai e Itália mesmo assim valorizaram a decisão do terceiro lugar não fazendo da disputa a costumeira espécie de prêmio de consolação dando o máximo que poderiam em tais circunstâncias.

Disputaram um cotejo de bom nível na sua parte normal, os 90 minutos e um justo empate de 2 gols para cada seleção obrigou a realização de mais 30 minutos complementares.

Julgava que a Itália demonstraria cansaço excessivo, mas este foi distribuído de forma equilibrada e mesmo quando o time de Prandelli teve um jogador expulso (Montolivo) com 7 minutos de jogo ainda pela frente o Uruguai não teve forças para decidir.

Na cobrança de penalidades prevaleceu pelo lado italiano a grande experiência do goleiro Buffon e aflorou nos uruguaios o cansaço que deveria aparecer no lado italiano que já vinha de uma partida tremenda com esses complementos na quinta-feira diante da Espanha.

Buffon pegou 3 penais, Diego Forlán confirmou sua má fase e perdeu mais uma cobrança (lembram-se daquela que Júlio Cesar defendeu com o jogo correndo?) e os italianos vão voltar comemorando um honroso terceiro lugar numa competição de alto nível.

A estrela de Júlio Cesar foi de fato extraordinária em seu brilho e se não pegou o pênalti que o árbitro marcou contra o Brasil no cotejo com a Espanha o tiro de Sérgio Ramos saiu pela linha de fundo.

Sobre a partida pelo terceiro lugar a queda de produção no aspecto físico das duas equipes no tempo de prorrogação reforça a estupefação geral: por que uma partida ser jogada às 13 horas quando a outra, a verdadeiramente decisiva para o título da competição e onde o Brasil esmagaria a Espanha por 3 a 0 só seria iniciada às 19 horas e mais, a 2 mil quilômetros de distância?

AINDA SOBRE BRASIL E ESPANHA

Quase duas centenas de milhares de pessoas soltavam a voz no novíssimo Maracanã entoando no ritmo e com alegria esfuziante os versos e melodia compostos por João de Barro, o Braguinha e seu parceiro Alberto Ribeiro.

Foi o futebol que eternizou a célebre marchinha "Touradas em Madri" composta para o Carnaval de 1938 e gravada pela primeira vez pelo grande radialista Henrique Foréis Domingues, o "Almirante", que era anunciado como "a maior patente do rádio" e que naquele 13 de julho de 1950 as vozes presentes no Maracanã reviviam acenando lenços brancos aos espanhóis.

Qual terá sido a razão para que a torcida de ontem não cantasse como em 1950 no mesmo ritmo alegre em que jogou a seleção as "touradas em Madri"?

O efeito seria o mesmo daquele ano tão distante quando enquanto o público cantava alegremente "eu fui às touradas em Madri, paratimbum- bum-bum" os gols iam saindo lá no gramado para se fixar o placar final de Brasil 6 Espanha 1.

Nos 3 a 0 de ontem a vitória foi tão categórica quanto aquela.

Não era um jogo de vingança já que ninguém ali se lembrava de uma outra Copa da Mundo, a de 1934,quando os espanhóis venceram em Gênova por 3 a 1 e o Brasil, depois de uma estafante viagem singrando o Atlântico era eliminado de uma Copa do Mundo com apenas 1 cotejo realizado.

No máximo alguns recordavam que fora naquele jogo que Leônidas da Silva, o artilheiro da Copa seguinte na França fez o seu primeiro gol em mundiais, o solitário gol brasileiro que pouco valia contra os 3 da Espanha.

Também ninguém poderia esperar que depois daquele show de nossos craques acontecesse o desastre diante do Uruguai 3 dias depois.

Se o Uruguai era nosso parceiro contínuo em muitas disputas a Espanha era um adversário incomum e que conosco duelara e continuaria duelando muito pouco através da história futebolística.

Posso comprovar isso até pessoalmente já que fui pela primeira vez à Espanha em 1965 para transmitir um torneio de ...basquetebol em que o Corinthians representava o Brasil.

Voltei no ano seguinte quando realizava uma série de entrevistas com protagonistas da Copa do Mundo da Inglaterra e a Espanha se classificara com um gol de alguém muito conhecido no Brasil.

O ponteiro Ufarte, que aqui jogara no Corinthians e era conhecido apenas pela simplicidade de seu apelido: Espanhol.

O primeiro enfrentamento futebolístico foi mesmo aquele de 1934 e que deve ser olhado com a visão de um Brasil iniciante e cujo futebol ainda não se profissionalizara.

À Itália em 1934, pelas divergências no Brasil, comparecera uma seleção formada por amadores e por poucos profissionais sem clube já que havia um desentendimento absoluto principalmente entre paulistas e cariocas quanto à adoção do profissionalismo.

Para que as gerações atuais compreendam a extensão do problema um bom ensinamento é lembrar que o Clube Atlético Paulistano, grande agremiação poliesportiva e cujo time de futebol já "fizera" a Europa conquistando vitórias espetaculares encerrou suas atividades na modalidade mais popular do país em protesto contra o profissionalismo.

Curioso é o fato de Brasil e Espanha terem se enfrentado poucas vezes desde aquele ano de 1934 em apenas 9 jogos e terem sido adversários 5 vezes em Copas do Mundo e apenas 3 vezes em amistosos e esse de ontem na decisão da Copa das Confederações e com vitória espetacular do Brasil.

BRASIL X ESPANHA EM COPAS DO MUNDO

Depois daquela de 1934 e que nos eliminou logo de saída na segunda Copa do Mundo houve esses 6 a 1 de 1950; os 2 a 1 na Copa de 1962 no Chile; um empate sem gols num lamaçal em que se transformou o gramado de Mar Del Plata, Argentina, na Copa de 1978, outra vitória brasileira (1x0) gol do saudoso Sócrates na Copa do Mundo de 1986 no México.

Amistosamente as duas seleções enfrentaram-se por 3 vezes, com o Brasil vencendo por 1 a 0 em Salvador em 1981, a Espanha ganhando por 3 a 0 em Gijon em 1990 e o último enfrentamento amistoso em Vigo, 1990, com um empate sem gols.

Restou o jogo de ontem e que decidiu a favor do Brasil a Copa das Confederações e que completa um pequeno cartel de 9 partidas com 5 vitórias brasileiras, duas vitórias espanholas e dois empates.
No todo o Brasil marcou 14 gols, a Espanha 8. .

DETALHES DE BRASIL 3 ESPANHA 0

O árbitro foi o holandês Bjorn Küipers e o placar foi construído por Fred, aos 2 minutos de partida e Neymar aos 44 terminando o primeiro tempo com 2 a 0 para o Brasil.

No segundo tempo Fred, logo aos 2 minutos fez o terceiro gol brasileiro e que praticamente selou o triunfo do Escrete verde-amarelo.

O Brasil jogou com Júlio Cesar; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo. Luiz Gustavo, Paulinho (Hernanes, 42`), Hulk (Jadson, 27`), e Oscar. Neymar e Fred (Jô, 34`). Todos as alterações feitas no segundo tempo. Técnico: Luiz Felipe Scolari.

Espanha: Casillas; Arbeloa (Azpilcueta no 2º tempo), Piqué (expulso aos 24`por falta agressiva em Neymar que ia entrar livre em arrancada para a área espanhola), Sérgio Ramos e Jordi Alba. Busquets, Xavi e Mata (Jesus Navas, 12`). Pedro, Iniesta e Fernando Torres (David Villa, 14´) Técnico: Vicente del Bosque.

A Espanha jogou com 10 a partir da expulsão de Piqué pelo fato de já ter então completado as 3 substituições, porém, é preciso ressalvar que o Brasil, mesmo respeitando o grande adversário já se sentia seguro e não tinha a necessidade de imprimir a busca de mais gols.

O futebol espanhol sempre foi brilhante e os resultados do passado apenas recordam o valor da seleção brasileira, digamos, até 2002, último mundial vencido pelo Brasil.

Iguais aos mexicanos os cronistas espanhóis justificavam sua seleção usando da frase "jogamos como nunca e perdemos como sempre."

Julgo que um aspecto influiu decisivamente na fase de vitórias espanholas nestes últimos anos e que culminaram com as Eurocopas e a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul: a Espanha deixou de ser a "fúria" apelido que recebeu pela maneira com que seus jogadores se comportavam em campo até certa época antes dos técnicosLuiz Aragonês, Vicente Del Bosquena seleção e também do holandês Frank Rijkaard, o que construiu a atual forma de jogar do Barcelona e cuja sequência foi seguida por Pepe Guardiola.

Nada mais errado do que chamar o futebol praticado hoje pela seleção espanhola ou entre os clubes pelo Barcelona de "fúria".

Já escrevi que hoje o futebol espanhol se parece muito mais com um minueto dos grandes salões da "belle-époque"com seu extraordinário toque de bola, paciência, ausência de faltas e nenhuma disposição para saídas no chutão.

Em sentido contrário vem o pequeno número de finalizações em relação a posse de bola que geralmente gira entre 60 e 70 por cento no conjunto de partidas da equipe treinada por Vicente Del Bosque.
Essa forma de atuar dos espanhóis e que sempre lhes dá um maior percentual de posse de bola foi questionada nesta Copa das Confederações desde a partida contra a Itália e confirmada mais do que nunca na vitória do Brasil que não permitiu jamais que a Espanha praticasse sua costumeira maneira de atuar.

Que a seleção brasileira siga o caminho ontem encontrado e que a coincidência com as passeatas reflita também numa melhor condição de vida para todo o povo brasileiro.

A seleção brasileira é das mais ativas no futebol mundial desde que uma visão profissionalista e faturadora foi imprimida pela então CBD quando tinha João Havelange em seu comando.

Tendo terceirizado a organização de seus cotejos o Brasil, mesmo com a maioria de seus principais atletas atuando na Europa realiza partidas pelo mundo em todas as datas FIFA e não faltam adversários.

Pena que nem sempre estes sejam de qualidade e acredito que seja um dos motivos principais para o declínio do Escrete Nacional brasileiro no ranking FIFA.

Outro motivo, discutível, é o fato da maioria dos atletas nacionais atuarem em equipes estrangeiras, opinião de muitos, mas que não é endossada pelo cronista já que os atletas brasileiros nunca perderam o amor por jogar na equipe nacional.

Prova: a maneira como cantaram o Hino Nacional ontem e nas demais partidas dessa Copa.

Pode ter acontecido sim um descrédito da torcida pela ausência de jogos no país já que a seleção atua predominante nos países que pagam para vê-la em ação.

(Flávio Araújo)

Fonte: www.ribeiraopretoonline.com.br
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir